Eu acho que é um mal de filha única, mas também acredito que tenha a ver com meu signo. Eu sou terrível pra emprestar coisas. Tenho um ciúmes danado de tudo que é meu e reza a lenda que quando pequena eu trancava a porta do meu quarto quando os filhos das amigas da minha mãe vinham aqui em casa. Ok, eu me lembro perfeitamente de parar na frente da porta e dizer “não existe nada pra lá, a casa termina aqui!” e tentar convencer uma criança menor do que eu de que talvez aquela porta fosse um erro arquitetônico, vai saber?!
A questão é que pouco disso mudou no alto dos meus 22 anos. Mas estou melhorando, é verdade. Já não páro mais na frente da porta, e ano passado emprestei uma box de Friends e outra de Seinfeld pro meu melhor amigo, que tinha feito uma operação no joelho e provavelmente ficaria de molho um tempo. Foram meses fingindo naturalidade e tranquilidade, tentando dar os ares de alguém que tinha mais o que pensar do que em qual dvd player tocavam meus DVD’s. A verdade é que me contorcia na cama sonhando que alguma das box poderia voltar com marcas de dedos, um risco de caneta, ou, pior ainda, um dos cantinhos levantado.
Não gosto de pensar em emprestar maquiagens, roupas, livros, DVD’s. Mas estou trabalhando bem com a idéia de emprestar canetas BIC na aula. Apesar de tudo, não sou uma pessoa materialista, antes que joguem meu nome na Medina. É aí que acho que entra o lado canceriana de ser, pois eu agrego muito valor à essas coisas. Elas parecem únicas pra mim, mesmo que existam outros exemplares, modelos, etc. Guardo porcarias que meu pai me deu só porque foi ele que me deu, e isso inclui um chaveiro de bicho horrendo laranja de mola, mistura de hipopótamo com tamanduá.
E depois de todas essas constatações, não é de se estranhar a minha reação diante da pergunta do meu namorado – que aprendeu muito bem a dividir os materiais com os coleguinhas: Que tu acha de reunir o pessoal aqui em casa pra fazer a inauguração do meu Wii?
*olho pra ele, séria. grande suspiro. olho pra frente de novo.*
Ah, por favor. Todo mundo sabe que meu Wii seria guardado numa redoma de vidro em algum lugar das Antilhas Holandesas, onde eu jogaria o mesmo jogo pra sempre só pra não ter que comentar nada com ninguém. Com luvas descartáveis, claro.