Sobre ser a tal metaformose ambulante

22 de September de 2014

Raul Seixas

Mexer numa colméia? Viajar sem fazer revisão no carro? Ficar perdido no deserto? Que nada. Perigoso mesmo é ter ideias e um blog.

Ao mesmo tempo em que é ótimo compartilhar seus pensamentos aos milhões de bytes internet a fora, isso também quer dizer que eles ficarão gravados em uma memória pública e escancarada para quem quiser vasculhar sua mente ou está chegando agora e pega o trem andando, sem contexto algum. Mesmo que você delete ou edite algum post, sempre vai correr o risco de ter tido sua ideia “printada” ou divulgada viralmente sem controle algum. Na internet, falou, tá falado.

Quer mesmo saber? A gente muda de opinião. Ter seu histórico aberto não altera esse fato, e eu vejo uma coisa muito legal nisso tudo que é a gente poder perceber o quanto evoluiu, o quanto também mudou e o quanto podemos mudar sem que isso seja um problema. Pois é, tão difícil quanto querer mudar de ideia e não conseguir é querer mudar de ideia e simplesmente mudar. É o medo de ser julgado depois por pessoas que não entendem que você tem muito mais personalidade quando assume outra postura diante de x motivos do que quando tapa os ouvidos e bate os pés gritando seus ideais trancados a 7 chaves.

Mas as pessoas não são – e nem devem ser – tão enquadradas assim. A gente atira pedras, morde a língua e se arrepende muito. Apesar de ouvir incansavelmente a frase “Nunca diga nunca!” fala “nunca” pra caralho. É natural, é normal e não é motivo de vergonha, e sim de orgulho. Orgulho de ser quem você é hoje porque foi outra pessoa em outros momentos, e é só assim que conseguimos enxergar valor nas transformações, nossas e dos outros a nossa volta.

Com 13 anos eu dizia que não queria casar e nem ter filhos, e hoje eu tenho um bebê de 6 meses – mas ainda não tenho intenções de subir ao altar. Eu já escrevi aqui no blog que sou a favor da pena de morte e contra o aborto, e hoje penso exatamente o contrário. Eu já disse também que sentia uma vergonha gigante da Malu Magalhães com o Marcelo Camelo e hoje me sinto uma idiota por ter pensado isso porque adoro o casal e já li o quanto ela foi massacrada pela mídia e pelas pessoas na época em que o namoro começou. Vou fazer o que? Apagar os posts? Não, assim como mantenho no blog muitas outras opiniões, hobbies e pessoas que hoje não fazem mais parte da minha vida, mas um dia fizeram, oras. Esta é sua vida, encare-a de frente.

E que nada, nem ninguém, nos impeça de mudar de opinião outra vez, e de questionar as opiniões que nós temos já formadas. Melhor do que gritar “toca Raul!” é prestar atenção no que ele tenta nos dizer há anos. Não existe nada de errado em ser a tal da metamorfose ambulante.